domingo, 23 de junho de 2013

“- A seu ver, o que impede as pessoas de cometerem suicídio – perguntei  Kírilov olhou distraído, como se tentasse se lembrar do que estávamos falando.
- Eu, eu ainda sei pouco… dois preconceitos o impedem, duas coisas; só duas; uma, muito pequena, a outra muito grande. Mas até a pequena também é muito grande.
-Qual é a pequena?
- A dor.
- A dor? Será que isso é tão importante… neste caso?
- De primeiríssima importância. Há duas espécies de suicida  aqueles que se matam ou por uma tristeza ou de raiva, ou por loucura, ou seja lá por que for… esses se matam de repente. Esses pensam pouco na dor, se matam de repente. E aqueles movidos pela razão – estes pensam muito.
- E por um acaso há esse tipo que se mata por razão?
- Muitos. Se não houvesse preconceito esse número seria maior; muito maior; seriam todos.
- Mas todos mesmo? Ele fez silêncio -E porventura não há meios de morrer sem dor?
- Imagine – parou ele diante de mim – imagine uma pedra do tamanho de uma casa grande; ela está suspensa e você debaixo dela; se lhe cair em cima, na cabeça, sentirá dor?
- Uma pedra do tamanho de uma casa? Claro que dá medo.
- Não estou falando do medo; sentirá dor?
- Uma pedra do tamanho de uma montanha, milhões de quilos. É claro que não há dor nenhuma.
- Mas se você realmente ficar debaixo, e enquanto ela estiver suspensa, vai ter muito medo de sentir dor. O primeiro cientista, o primeiro doutor, todos sentirão medo. Cada um saberá que não sentirá dor e cada um terá muito medo de sentir dor.
- Bem, e a segunda causa, a grande?
- É o outro mundo.
- Ou seja, o castigo?
- Isso é indiferente. O outro mundo; só o outro mundo.
- Por acaso não há ateus que não acreditam absolutamente no outro mundo? Você não estará julgando por si?
- Ninguém pode julgar senão por si mesmo – pronunciou ele enrubescendo – Haverá toda a liberdade quando for indiferente viver ou não viver. Eis o objetivo de tudo.
- Objetivo? Neste caso é possível que ninguém queira viver?
- Ninguém – pronunciou de modo categórico.
- O homem teme a morte por que ama a vida, eis o meu entendimento – observei – e assim a natureza ordenou.
- Isso é vil e aí está todo o engano! – os olhos dele brilharam – A vida é dor, a vida é medo, o homem é um infeliz. Hoje tudo é dor e medo. Hoje o homem ama a vida por que ama a dor e o medo. E foi assim que fizeram. Agora a vida se representa como dor e medo, e nisso está todo o engano. Hoje o homem ainda não é aquele homem. Haverá um novo homem, feliz e altivo. Aquele para quem for indiferente viver ou não viver será o novo homem. Quem vencer a dor e o medo, esse mesmo será Deus. E o outro Deus não existirá.
- Então, a seu ver o outro Deus existe mesmo?
- Não existe, mas ele existe. Na pedra não existe dor, mas no medo da pedra existe dor. Deus é a dor do medo da morte. Quem vencer a dor e o medo se tornará Deus. Então haverá uma nova vida, então haverá um novo homem, tudo novo… Então a história será dividida em duas partes: do gorila à destruição de Deus e da destruição de Deus…
- Ao gorila?
- À mudança física da terra e do homem. O homem será Deus e mudará fisicamente. O mundo mudará, e as coisas mudarão, e mudarão os pensamentos e todos os sentimentos. O que você acha, então o homem mudará fisicamente?
- Se for indiferente viver ou não viver, todos matarão uns aos outros e eis, talvez, em que haverá a mudança.
- Isso é indiferente. Matarão o engano. Aquele que desejar a liberdade essencial deve atrever-se a matar-se. Aquele que se atreve a matar-se terá descoberto o segredo do engano. Além disso não há liberdade; Nisso está tudo, além disso não há nada. Aquele que se atrever a matar-se será Deus. Hoje qualquer um pode fazê-lo por que não haverá Deus nem haverá nada. Mas ninguém ainda o fez nenhuma vez.
- Houve milhões de suicidas.
- Mas nada com esse fim. Tudo com medo e não com esse fim. Não com o fim de matar o medo. Aquele que se matar apenas para matar o medo imediatamente se tornará Deus.
- Talvez não consiga – observei.
-Isso é indiferente – respondeu baixinho, com uma altivez tranquila, quase com desdém. – Lamento que você pareça estar rindo – acrescentou meio minuto depois.”

Dostoiévski

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Talvez duas pessoas se unem por uma vibração inicial tão forte em sua jovialidade e tão intensa na curiosidade que, frente à solidão, não se ousa tentar entender nada. É lento quando o sol do meio-dia que é a adolescência começa a baixar, mas sem as mãos sobre os olhos vemos um a um se projetando aos interesses pessoais, e aumenta cada hora, clareando junto à noite, a vontade de um querer ser mais si do que já foi. E é aí que vai pro seu canto aquele que cansou do meio da sala, e aquele que precisava dar uma cambalhota dentro dele mesmo busca de mais espaço vazio, o que precisava contar histórias anseia a multidão e o viajante segue viagem.
Somos afinal matéria vaga que acredita em conhecer qualquer coisa que não ele mesmo como salvação. Digo, somos, eu e você, ligados por uma corrente imaginaria, uma corrente ignorante no sentido bruto. Somos velhos apaixonados que agora amam outras coisas, que se dermos as costas viram as mesmas. Amamos as mesmas coisas mas queremos que sejam outras, já que o mundo que vivemos é tão escasso em criatividade e liberdade que confundem cópia com o primeiro e libertinagem com o segundo. Chamo de Indigo e você de Ciano, mas é tudo o maravilhoso Azul.

Sou aquele que vive dando saltos, estou no 22 desse jogo de amarelinha trucado que é; do meu último salto ainda estou no ar, ainda não caí. Da sua vida nada sei, da sua vida cada dia sei menos. Da última vez tua vida me pareceu cansativa até de ouvir. Me contou com pressa de encontrar um pote de ouro que nem tenho gana de procurar. Rompo o silêncio que sei que sera criado outra vez, é uma bolha de sabão indestrutível, é um jogo de criança inacabável.
A janela abriu de golpe me mostrando o morro e as arvores e tudo que alí pertence e não se indaga de que talvez outro bosque seria melhor. Pensei em você sem razão e tive aquela tremedeira forte de quando se olha uma imagem no justo instante após termos pensado nela. E sua vida toda naquele instante é esse mareio que falam "dejà vu".
Tenho refletido sobre a margem de erro das nossas escolhas e que usualmente essas decisões são apenas parecidas ao que procuramos já que não sabemos a não ser pela intuição, que na maioria dos dias se mostra inatingivel, o que realmente queremos. Assim, talvez, não obtemos exatamente o que queremos pois a semelhança nos é suficiente.

Talvez foram estranhos os últimos tempos.
Talvez eu já refleti e esqueci sobre todas essas coisas.

Gostaria de conversar com você de coisas chave e passear por espaços novos, VAZIOS! Queria te dizer do que não sei o que há de bonito na arbitrariedade de tanta regra e tanto excesso dessa gente.
Gosto muito de você, queria te dizer qualquer coisa. Mas somos muito novos, tudo que digo é volúvel, como se minhas idéias cozinhassem em plena fervura! E festejamos! Todo dia você acorda a mesma e eu também, e o melhor, afinal, é que assim não se conhece a solidão de mais ninguém!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

 vice

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